sábado, 12 de dezembro de 2009

A leitura



Estudos sobre o processo cognitivo da leitura mostram que o leitor, para entender o significado do texto que lê, precisa elaborar uma interpretação global deste durante sua leitura.Tal processo, de acordo com o modelo teórico de Kintch e Van Dijk, assinalado em trabalho de Colomer e Camps (2002), é chamado de macroestrutura mental do texto, isto é, a semântica abstrata do conteúdo deste ou o resumo mental das informações feitas pelo leitor. Para efetuar este processo, o leitor aplica às proposições do texto macrorregras, entendidas aqui como uma série de estratégias de síntese (supressão, generalização e construção da informação do texto) que inicia quando o leitor , a partir das primeiras informações, compara estas com as que já possui e, se lhe parecem sem importância, são descartadas ( macrorregra de omissão). Porém, se o leitor encontra uma enunciação que agrega várias informações, procede a uma macrorregra de generalização e, mesmo, se houver necessidade, constrói ele mesmo uma proposição-resumo ou macrorregra de construção.
Esta atividade de resumo é processada de tal forma que o leitor só toma ciência dela em caso de proposições não adequadas à representação mental construída por ele até aquele momento, necessitando assim reorientar o significado ou descartar a nova informação. No caso da reorientação ser impossível, o leitor admitirá que incorreu em algum erro e voltará atrás em busca do significado pertinente.
No caso do leitor não conseguir encontrar as informações parciais que não combinam entre si, ficará sem opção para buscar a compreensão do texto, podendo, mesmo, interpretar como válido algo que não se ajuste à mensagem geral, sem perceber a contradição criada. Em resumo, é necessária a existência de um mecanismo avaliativo da nova informação do texto, relacionada com conhecimentos de mundo do leitor, seus propósitos e objetivos ao iniciar a leitura do texto.
A atividade metacognitiva de auto-avaliação do leitor, acima descrita, deve ser constante no processo de construção de sentido para que seja possível a reconstrução do significado. Muitos são os aspectos presentes na compreensão leitora: a intenção da leitura e os conhecimentos trazidos pelo leitor. Em relação à intenção, a leitura de um adulto pode ter finalidades diversas como busca de informação, distração, vontade de ter mais conhecimentos etc. Esta intenção é que determinará a forma de abordagem do escrito bem como o nível de compreensão que o leitor julgará adequado para sua intenção. Assim, Foucambert (1976), citado por Colomer e Camps (2002), destaca algumas maneiras de abordagem do texto de acordo com o objetivo do leitor: leitura silenciosa integral (um romance ou ensaio); leitura seletiva para extração de uma idéia central; leitura exploratória para uma informação determinada; leitura lenta para desfrutar de aspectos formais do texto e leitura informativa para uma busca rápida de uma informação pontual.
Em relação aos conhecimentos trazidos pelo leitor é de grande importância que estes sejam amplos e de tipo variado para que a leitura realize-se com êxito. São também de dois tipos: conhecimentos sobre o escrito e sobre o mundo de acordo com Colomer e Camps (2002).






Os conhecimentos necessários sobre o escrito são de níveis diversos:

a) Paralingüísticos: os leitores, geralmente, possuem grande conhecimento destes aspectos como, por exemplo, os elementos tipográficos,os formais como separação de frases, sentenças ou capítulos e convenções do tipo do índice, prólogo, entre outros;

b) Relações grafofônicas: trata-se do conhecimento das letras e de sua relação com as diferentes unidades fônicas, processo denominado consciência fonológica, reconhecido como indispensável para a aquisição do código escrito;


c) Morfológicos, sintáticos e semânticos: percepção de relações de significado entre palavras do texto para decidir o sentido de uma palavra polissêmica, ou de outra forma, conhecer e identificar relações sintáticas entre as unidades lingüísticas. Este último parece ser o processo mais usado por leitores fluentes, captando o escrito a partir da organização das unidades sintáticas;

d) Conhecimentos textuais: a capacidade de reconhecer as estruturas textuais mais usadas em um momento histórico em uma sociedade facilita a compreensão das idéias fundamentais de cada tipo de texto.

Os conhecimentos sobre o mundo são cruciais para a compreensão, já que esta é resultado de um processo pelo qual as pessoas relacionam suas leituras a grupos de ações por elas vivenciadas e armazenadas anteriormente e que serão entendidas de acordo com essa memória.
Este tipo de processo pode levar a duas situações distintas, freqüentemente observadas nas escolas, se o leitor acrescenta ao texto muitos conhecimentos pode ficar desinteressado, pois tudo se torna muito previsível para ele. Por outro lado, para alguns leitores, muitos textos são impossíveis de ser lidos por falta de conhecimento anterior daqueles.
As pesquisas sobre os aspectos cognitivos da leitura não mostram de que forma o leitor passa de um nível a outro, porém, sabe-se que o ensino de um desses níveis não necessariamente levará aos outros.
No contexto atual, o professor deixa de ser somente transmissor de conhecimento, transforma-se em facilitador da aprendizagem dos alunos e responsável pela mediação deste processo, ou ainda, de acordo com Nickel (2003), procurando ajudar seus alunos, observando parâmetros básicos e conteúdos programados, entre outros, que estejam circunscritos às possibilidades concretas destes.
O professor torna-se, então, responsável pela elaboração de uma leitura contextualizada da realidade que, permeada pelos conhecimentos e vivências apresentados pelos alunos, propiciará uma conscientização da importância do papel de cada um na sociedade. Nesse ponto, torna-se importante um estudo sobre a formação do professor como leitor em nossos dias, sobre a memória que se tem da escola, sobre as reflexões de professores e alunos no espaço contraditório desta escola.
Nesse sentido, é essencial situar a memória e o lugar que esta ocupa na escola para que aflorem as lembranças e as formas de sua constituição através dos tempos, revelando sua identidade. Os lugares de memória, isto é, bibliotecas, dicionários, comemorações, monumentos, testemunhos de outro tempo são a base para que as pessoas se reconheçam e sintam que fazem parte de um grupo. No mundo atual, o passado é sempre descartado e uma maneira de se contrapor a este fato é recuperar sempre traços e vestígios para fortalecer a memória coletiva. Um importante aspecto nesse processo é a história oral que faz com que aflorem as memórias subterrâneas subjugadas pela ordem social e sua ideologia. Na escola, são os professores e alunos, juntamente com outros funcionários que constroem a identidade deste espaço social o qual está enraizado no contexto destes sujeitos sociais, além da história nela construída que passou a constituir um lugar de memória.
Esta nova dimensão da função do professor amplia-se consideravelmente e significa romper hábitos e acomodações, em relação à busca de algo novo e desconhecido, o que constitui um grande desafio.
O profissional docente, portanto, será submetido a novas exigências, novos desafios, que lhe permitam dar conta desta dimensão ampliada de sua função, apreendendo outros indicativos necessários à prática docente como entender o ensino como mediação, de acordo com uma prática interdisciplinar, conhecendo e utilizando estratégias do ensinar a pensar, auxiliando os alunos na busca de uma perspectiva crítica do conteúdo, desenvolvendo capacidades comunicacionais nos alunos e respeitar suas diferenças de acordo com sua diversidade cultural. Por fim, o professor deve estar em permanente formação e incluir uma perspectiva afetiva e ética em sua atuação.
Percebe-se, porém, uma contradição entre a necessidade de mudanças que são significativas e a inviabilidade destas ocasionada pela defasagem na formação docente, já que estas demandam tempo e investimento de recursos por parte das instituições de ensino e de políticas educacionais de formação continuada que abarquem as reais necessidades dos docentes.
Ampliando esta visão, Marcelo (1999) define o conceito de formação de professores como uma área que estuda formas pelas quais os professores adquirem conhecimentos e competências que podem possibilitar sua intervenção profissional no desenvolvimento do currículo e da escola, visando a melhoria da educação recebida pelos alunos.
Alguns princípios podem ser relacionados sobre a formação do professor como uma concepção de continuidade que seja capaz de integrá-lo com processos de mudança, inovação e desenvolvimento curricular, bem como com o desenvolvimento organizacional da escola e possibilite o questionamento constante de suas crenças e práticas institucionais.
SANCHOTENE(2006)

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