domingo, 21 de fevereiro de 2010

SER



Ser

Ter a calma do abandono dos sonos,
cuidar do peito como quem planta trigo,
amenizar tremores e febres
como quem dá descanso ao filho.

Acolher sonhos, serenos e ventos,
tatear promessas como se fossem rezas,
cuidar que as palavras sejam boas iguais a frutos
como quem cuida de árvores nos quintais.

Acender fogo sabendo das refeições,
bendizer o dia como quem abençoa a vida,
agradecer por tudo em todos os instantes
como quem aflito recebe afago e ternura.

Caminhar sem ruídos pelos caminhos,
atentar às paisagens como quem espia a lua,
saber do sabor e dos perfumes os mais humildes
como quem edifica poemas e edifícios.

Amar na possibilidade de todo amor,
entregar-se a si como num esquecimento,
doar-se com a profundidade dos gestos
como quem sozinho celebra seu momento.

Cuidar para que o coração seja ameno,
resguardar a bondade como preciosidade e luz,
ter nas mãos fragilidades humanas e divinas
como quem ao fim de tudo se apresentasse a Jesus.

                                            Zeca Corrêa Leite


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sobre a atual vergonha de ser brasileiro



Sobre a atual vergonha de ser brasileiro
Affonso Romano de Sant'Anna

(Diante da pesquisa que aponta F.H. (presidente da República Fernando Henrique) como o brasileiro que mais envergonha o país, o cronista se vê forçado a publicar um texto de 17 anos atrás, atualíssimo)


Que vergonha, meu Deus! ser brasileiro
e estar crucificado num cruzeiro
erguido num monte de corrupção.
Antes nos matavam de porrada e choque
nas celas da subversão. Agora
nos matam de vergonha e fome
exibindo estatísticas na mão.
Estão zombando de mim. Não acredito.
Debocham a viva voz e por escrito
É abrir jornal, lá vem desgosto.
Cada notícia é um vídeo-tapa no rosto.
Cada vez é mais difícil ser brasileiro.
Cada vez é mais difícil ser cavalo
desse Exu perverso
nesse desgoverno terreiro.
Nunca vi tamanho abuso.
Estou confuso, obtuso,
com a razão em parafuso:
a honestidade saiu de moda
a honra caiu de uso.
De hora em hora a coisa piora:
arruinado o passado,
comprometido o presente,
vai-se o futuro à penhora.
Valei-me Santo Cabral
nessa avessa calmaria
em forma de recessão
e na tempestade da fome
ensinai-me a navegação.
Este é o país do diz e do desdiz,
onde o dito é desmentido
no mesmo instante em que é dito.
Não há lingüista e erudito
que apure o sentido inscrito
nesse discurso invertido.
Aqui o discurso se trunca:
o sim é não. O não, talvez.
O talvez, nunca.
Eis o sinal dos tempos
este o país produtor
que tanto mais produz
tanto mais é devedor.
Um país exportador
que quando mais exporta
mais importante se torna
como país mau pagador.
E, no entanto, há quem julgue
que somos um bloco alegre
do ‘‘Comigo Ninguém Pode’’
quando somos um país de cornos mansos
cuja história vai dar bode.
Dar bode, já que nunca deu bolo,
tão prometido pros pobres
em meio a festas e alarde
onde quem partiu, repartiu
ficou com a maior parte
deixando pobre o Brasil.
Eis uma situação
totalmente pervertida
-- uma nação que é rica
consegue ficar falida,
o ouro brota em nosso peito,
mas mendigamos com a mão,
uma nação encarcerada
que doa a chave ao carcereiro
para ficar na prisão.
Cada povo tem o governo que merece?
Ou cada povo
tem os ladrões a que enriquece?
Cada povo tem os ricos que o enobrecem?
Ou cada povo tem os pulhas
que o empobrecem?
O fato é que cada vez mais
mais se entristece esse povo num rosário
de contas e promessas num sobe e desce de prantos e preces.
C’est n’est pas um pays sérieux!
já dizia o general.
O que somos afinal?
Um país-pererê? folclórico? tropical?
misturando morte e carnaval?
Um povo de degradados?
Filhos de degredados
largados no litoral?
Um povo-macunaíma
sem caráter-nacional?
Por que só nos contos de fada
os pobres fracos vencem os ricos nobres?
Por que os ricos dos países pobres
são pobres perto dos ricos
dos países ricos? Por que
os pobres ricos dos países pobres
não se aliam aos pobres dos países pobres
para enfrentar os ricos dos países ricos,
cada vez mais ricos, mesmo
quando investem nos países pobres?
Espelho, espelho meu!
há um país mais perdido que o meu?
Espelho, espelho meu!
há um governo mais omisso que o meu?
Espelho, espelho meu!
há um povo mais passivo que o meu?
E o espelho respondeu
algo que se perdeu
entre o inferno que padeço
e o desencanto do céu.

Texto extraído do jornal "
O Globo
" - Rio de Janeiro.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Fotos e Fotos

FOTOS POR MARCO SANCHOTENE / Londres

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Alfabetização

Com o desenvolvimento do processo de urbanização surge a necessidade de aprendizagem da leitura e da escrita e, conseqüentemente, as campanhas de combate ao analfabetismo.
Vidal (2001) em seu estudo sobre as práticas de leitura escolar, entre 1920 e 1930, adotando os conceitos de estratégia e tática, formulados por Michel de Certeau, isto é, das relações de força e formas de apropriação do objeto para entender a cultura escolar, concluiu que a leitura foi destacada dos outros saberes escolares e assumiu uma especificidade disciplinar, fixando formas apropriadas de leitura, critérios, escolha de títulos, entre outros, formulando padrões que permanecem até hoje, principalmente, delegando a tarefa do trabalho com a leitura somente aos professores de Língua Portuguesa. Por outro lado, a apropriação dos saberes por professores e alunos deu-se de maneira fragmentada e equivocada, já que, por exemplo, apesar das justificativas demonstradas por estudos científicos naquele momento sobre a importância da leitura silenciosa, a escola persistia e persiste até nossos dias em praticar a leitura oral.
O subdesenvolvimento do Brasil, manifestado a partir de 1950, leva a outra mudança na escola, visando a formação de mão-de-obra especializada necessária ao mercado de trabalho. Surge, então, a Lei n.o 5.692, de 1971 que propõe um ensino profissionalizante aliado a uma formação geral para a maioria e intelectual para os que tivessem vocação e competência e que teve conseqüências desastrosas para a educação. Constata-se um número maior de alfabetizados, mas não necessariamente de leitores.
Joyce Sanchotene


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