domingo, 26 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
A MENINA DOS FÓSFOROS- CONTO DE NATAL
Fazia um frio terrível. Nevava, e a noite aproximava-se rapidamente. Era o último dia de Dezembro, véspera de Ano Novo.
Apesar do frio intenso e da escuridão, andava pelas ruas uma menina descalça e com a cabeça descoberta.
Ao sair de casa ainda trazia umas chinelas, mas que não lhe serviram de muito. Eram enormes, tão grandes que decerto pertenciam à mãe e a pobre menina tinha-as perdido ao atravessar a rua correndo, para fugir de duas carruagens que rolavam velozmente. Estava agora descalça e tinha os pés roxos de frio. Dentro de um velho avental tinha muitos fósforos e segurava um punhado deles.
Ninguém lhe comprara fósforos durante o dia e nem sequer lhe tinham dado uma esmola. Morta de frio e de fome, arrastava-se pelas ruas. A pobre criança era a imagem da miséria. Caíam-lhe flocos de neve sobre os cabelos louros muito compridos.
As janelas das casas estavam todas iluminadas. Pelas ruas, espalhava-se o cheiro reconfortante de gansos assados, pois era véspera de Ano Novo.
A menina acocorou-se no ângulo formado pelos muros de duas casas. Encolhera as pernas e sentara-se em cima delas, mas continuava a ter frio. Não ousava voltar para casa porque não vendera nem um fósforo e não tinha sequer uma moeda para entregar ao pai. Temia que este lhe desse uma sova. Além disso, em casa fazia quase tanto frio como na rua, porque tinham apenas o telhado para os cobrir. Apesar de terem tapado com palha e trapos todas as frestas, o vento gelado penetrava incessantemente.
Pôs-se a acender todos os fósforos que restavam na caixa, para conservar junto de si a imagem da avozinha. Os fósforos davam uma chama tão clara que parecia dia. Nunca a avó fora tão bela e tão grande como naquela noite.
A bondosa senhora pegou na criança entre os braços e ambas se elevaram no espaço, envolvidas por uma luz extraordinária. Subiram alto, muito alto, até onde deixa de existir o frio, a fome e o medo.
E, quando chegou a madrugada, encontraram a criança estendida no chão, com as faces rosadas e um sorriso nos lábios. Estava morta. Tinha morrido de frio, na última noite daquele ano.
O Sol do dia do Ano Novo ergueu-se sobre o corpo frágil e abandonado na neve. O avental da criança continha ainda alguns fósforos, mas perto do corpo encontrava-se um pacote de caixas vazias. No entanto, ninguém podia supor as esplêndidas coisas que a menina tinha visto, nem sequer a emoção que sentira ao ser levada pela bondosa avozinha, no dia em que o novo ano principiava.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Poema de Leminski
Minha cabeça cortada
Joguei na tua janela
Noite de lua
Janela aberta
Bate na parede
Perdendo dentes
Cai na cama
Pesada de pensamentos
Talvez te assustes
Talvez a contemples
Contra a lua
Buscando a cor de meus olhos
Talvez a uses
Como despertador
Sobre o criado-mudo
Não quero assustar-te
Peço apenas um tratamento condigno
Para essa cabeça súbita
De minha parte
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
Guiné-Bissau
A influência da língua portuguesa no país começou no século XV,quando o governo português estava procurando um caminho marítimo para chegar às Índias,a fim de fazer comércio. Porém, para azar dos povos desses países, os navegadores lusitanos “descobriram” e ancoraram nessas terras que serviriam para ser exploradas. Inicialmente, a exploração foi lusitana, passando mais tarde a ser de toda a Europa.
A exploração acontecia de várias maneiras, contudo, a escravização era a mais cruel de todas. Esses nativos escravizados eram vendidos e trazidos para o Brasil, que nessa época também era colônia portuguesa, e os índios que habitavam o país eram também escravizados.
Foi desta colonização africana que surgiram as línguas crioulas, ou ditas pidgin, também chamada de língua de contato, que é o nome dado a qualquer língua criada de forma espontânea, de uma mistura de outras línguas, e serve de meio de comunicação entre os falantes de idiomas diferentes, O pidgin tem normalmente gramáticas rudimentares e um vocabulário restrito, servindo como línguas de contato auxiliar. São improvisadas e não são aprendidas de forma nativa. A preocupação pela origem das mudanças lingüísticas que vieram a configurar a gramática do Português Brasileiro voltou a reacender as discussões dos lingüistas em torno da hipótese de origem crioula.
LITERATURA DA GUINÉ-BISSAU
A literatura no país foi tardia devido ao atraso do aparecimento de condições sócio-culturais, propícias ao surgimento de vocações literárias. Esse atraso deveu-se, sobretudo ao fato da Guiné-Bissau ser uma colônia de exploração e não de povoamento, tendo estado por longo período sob a tutela do governo geral da colônia de Cabo-Verde.A literatura no país pode ser divida em quatro fases: A fase anterior a 1945; o período entre 1945 e 1970; de 1970 a 1980; e a partir de 1990.
A fase anterior a 1945
Autores marcados pelo cunho colonial
Os primeiros escritos no território guineense foram produzidos por escritores estabelecidos ou que viveram muitos anos na Guiné, muitos deles de origem cabo-verdiana.A maior parte das suas obras tem um caráter histórico ,com exceção da de Fausto Duarte(1903-1955),que se destacou como romancista,Juvenal Cabral e Fernando Pais Figueiredo ,ambos ensaístas,Maria Archer,poetisa do exotismo,Fernanda de Castro,cuja obra dá conta das transformações sociais da colônia na época e João Augusto Silva,que recebeu o primeiro prêmio de literatura colonial.Porém,a maior parte destes autores caracterizaram-se por uma abordagem paternalista ou próxima do discurso colonial.Durante esse período apenas uam figura guineense se destaca :o Cônego Marcelino Marques de Barros, que deixou trabalhos no domínio da etnografia,nomeadamente “ A literatura dos negros” e uma colaboração com caráter literário,dispersa em obras diversas.A ele se deve a recolha e a tradução de contos e canções guineenses em diferentes publicações e numa obra editada em Lisboa em 1990,intitulada “Contos ,Canções e Parábolas”.
II. O PERÍODO ENTRE 1945 E 1970
Uma poesia de combate
Neste período surgem os primeiros poetas guineenses: Vasco Cabral e António Baticã Ferreira, Amilcar Cabral, com uma dupla ligação à Guiné e Cabo Verde, faz também parte desta geração de escritores nacionalistas. A literatura deste período caracteriza-se pelo surgimento da poesia de combate que denuncia a dominação, a miséria e o sofrimento, incitando à luta de libertação.
Embora os primeiros poemas de Amilcar Cabral revelem um autor cabo-verdiano, a maior parte da sua obra literária é dominada por um cunho universalista, marcada pela contestação e incitação à luta.
III. DOS ANOS 1970 AO FIM DOS ANOS 1980
Uma literatura exclusivamente poética: da poesia de combate à poesia intimista
Com a independência do país, surge uma vaga de jovens poetas, cujas obras impregnadas de um espírito revolucionário, manifestam um caráter social. Os autores mais representativos são: Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwartz, Helder Proença, Francisco Conduto de Pina, Félix Sigá.
O colonialismo, a escravatura e a repressão são denunciados por esses autores que, no pós independência imediata apela para a construção da Nação e invocam a liberdade e a esperança num futuro melhor. O tema da identidade é abordado através de diferentes situações: a humilhação do colonizado, a alienação ou assimilação e a necessidade de afirmação da identidade nacional.
Note-se, porém que a questão de identidade não é apresentada como um fator de oposição entre o indivíduo e a sociedade na qual este evolui. Ela é analisada como um conflito pessoal do indivíduo, procura identificar-se com as suas raízes, da qual foi afastado pela assimilação colonial. Por conseguinte, nesta abordagem não se põe em causa a pertença do indivíduo à sociedade em questão.
As primeiras publicações poéticas surgiram em 1977, com a edição da primeira antologia “Mantenhas para quem luta”, editada pelo Conselho Nacional da Cultura. No ano seguinte, é publicada a “Antologia dos novos poetas / primeiros momentos da construção”. Estas duas obras consagram uma poesia que estimula à reconstrução do jovem país. Ainda em 1978, Francisco Conduto de Pina publicou o seu primeiro livro de poemas “Garandessa di nô tchon” e Pascoal D’Artagnan Aurigema editou “Djarama”,Helder Proença publicou em 1982 “Não posso adiar a palavra” com duas obras poéticas.Em 1990, surgiu uma nova coletânea poética, a “Antologia Poética da Guiné-Bissau” editada em Lisboa pela Editorial Inquérito, reunindo obras de quinze poetas, dos quais a maioria produz ainda uma poesia característica desta época.
IV. A PARTIR DA DÉCADA DE 1990
Uma poesia mais intimista.
O desencantamento dos sonhos da pós-independência imediato fez com que a euforia revolucionária abrisse espaço a uma poesia que se tornou mais pessoal, mais intimista, com a deslocação dos temas: Povo-Nação para o Indivíduo. Outros temas passaram a inspirar a criação literária, tais como o amor. De entre os seus autores citemos: Helder Proença, Tony Tcheca, Félix Sigá, Carlos Vieira, Odete Semedo.Embora o português continue a ser a língua dominante na poesia guineense, o recurso ao crioulo tornou-se mais frequente, quer pela escrita em crioulo, quer pela utilização de termos e expressões crioulas em textos em português. Várias são as publicações que dão conta destas inovações na literatura Bissau – guineense: “O Eco do Pranto” de Tony Tcheca em 1992, uma antologia temática sobre a criança, editada pela Editorial Inquérito em Lisboa; ”O silêncio das gaivotas” em 1996, o segundo livro de poemas de Francisco Conduto de Pina; “Kebur – Barkafon di poesia na kriol”, uma recolha de poemas em crioulo, editada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) em 1996; “Entre o Ser e o Amar”, uma recolha bilíngue português-crioulo de poemas de Odete Semedo, publicada também pelo INEP em 1996,“ Noites de insônia em terra adormecida”, um outro livro de poemas de Tony Tcheka publicado também em 1996 e “Um Cabaz de Amores - Une corbeille d’amours”, recolha bilíngue português-francês de poemas de Carlos Edmilson Vieira, publicada em 1998 pelas Editions Nouvelles du Sud em Paris.As primeiras bandas desenhadas de Fernando Júlio, exclusivamente em crioulo, apareceram na década de oitenta. Trata-se essencialmente de sátiras sociais que tiveram um grande sucesso. A música, onde a poesia crioula tem quase a exclusividade, foi também marcada pela exultação da reconstrução nacional.
A prosa
Em 1993 a prosa aparece na literatura contemporânea bissau-guineense. Foi Domingas Sami que inaugurou este estilo com uma recolha de contos “A escola” sobre a condição feminina na sociedade nacional. Em 1994, surge o primeiro romance de Abdulai Silá, “Eterna Paixão” , que publicou outros dois romances: “A última tragédia”, traduzido para francês e “Mistida”em 1997. Na sua obra Silá põe em destaque a coabitação na sociedade colonial das duas comunidades presentes, a colonizadora e a colonizada. A transição para uma sociedade pós-colonial onde uma nova elite saída da luta de libertação se instala no poder, fazendo contrastar o seu discurso revolucionário com uma prática desastrosa no governo do país, é visitada pela pluma atenta do escritor. O seu romance “Mistida” publicado um ano antes do início da guerra civil de 1998/1999, é considerada pelos críticos literários como uma obra profética. Em 1997, Carlos Lopes, autor de numerosas obras de caráter histórico, sociológico e político, inaugura a sua incursão na literatura nacional com a publicação de “Corte Geral”, uma recolha de crônicas, na qual, com muito humor, descreve situações reveladoras do surrealismo que caracteriza a sociedade guineense de todos os tempos.Um outro escritor se impõe em 1998 na cena literária: Filinto Barros, com o seu primeiro romance “Kikia Matcho”,que mergulha o leitor no mundo mágico e místico africano, abordando a vida decadente da capital nos anos 1990 e o sonho falhado que representa a emigração.
Em 1999, Filomena Embaló publicou também o seu primeiro romance, “Tiara”, que levanta o véu do delicado tema da integração familiar e social no seio da própria sociedade africana. Carlos Edmilson Vieira, em 2000, editou “Contos de N’Nori”, uma recolha de contos que evocam lendas e costumes populares, recordações de brincadeiras da juventude e as mudanças sociais e políticas da sociedade guineense. Constata-se que a literatura contemporânea bissau-guineense, nas suas diversas formas, tem uma constante : pela pluma dos seus escritores, ela retrata as desilusões, os medos e as aspirações da população perante a situação política, social e econômica que prevalece no país.
Referência:
Disponível em: http; //www.didinho.org/resenhaliteraria.html.
Acesso em:30/10/10.
COMO TUDO COMEÇOU
GUINÉ-BISSAU
A influência da língua portuguesa no país começou no século XV,quando o governo português estava procurando um caminho marítimo para chegar às Índias,a fim de fazer comércio. Porém, para azar dos povos desses países, os navegadores lusitanos “descobriram” e ancoraram nessas terras que serviriam para ser exploradas. Inicialmente, a exploração foi lusitana, passando mais tarde a ser de toda a Europa.
A exploração acontecia de várias maneiras, contudo, a escravização era a mais cruel de todas. Esses nativos escravizados eram vendidos e trazidos para o Brasil, que nessa época também era colônia portuguesa, e os índios que habitavam o país eram também escravizados.
Foi desta colonização africana que surgiram as línguas crioulas, ou ditas pidgin, também chamada de língua de contato, que é o nome dado a qualquer língua criada de forma espontânea, de uma mistura de outras línguas, e serve de meio de comunicação entre os falantes de idiomas diferentes, O pidgin tem normalmente gramáticas rudimentares e um vocabulário restrito, servindo como línguas de contato auxiliar. São improvisadas e não são aprendidas de forma nativa. A preocupação pela origem das mudanças lingüísticas que vieram a configurar a gramática do Português Brasileiro voltou a reacender as discussões dos lingüistas em torno da hipótese de origem crioula.
EXEMPLOS DO VACABULÁRIO CRIOULO DE BASE PORTUGUESA:
LITERATURA DA GUINÉ-BISSAU
A literatura no país foi tardia devido ao atraso do aparecimento de condições sócio-culturais, propícias ao surgimento de vocações literárias. Esse atraso deveu-se, sobretudo ao fato da Guiné-Bissau ser uma colônia de exploração e não de povoamento, tendo estado por longo período sob a tutela do governo geral da colônia de Cabo-Verde.A literatura no país pode ser divida em quatro fases: A fase anterior a 1945; o período entre 1945 e 1970; de 1970 a 1980; e a partir de 1990.
A fase anterior a 1945
Autores marcados pelo cunho colonial
Os primeiros escritos no território guineense foram produzidos por escritores estabelecidos ou que viveram muitos anos na Guiné, muitos deles de origem cabo-verdiana.A maior parte das suas obras tem um caráter histórico ,com exceção da de Fausto Duarte(1903-1955),que se destacou como romancista,Juvenal Cabral e Fernando Pais Figueiredo ,ambos ensaístas,Maria Archer,poetisa do exotismo,Fernanda de Castro,cuja obra dá conta das transformações sociais da colônia na época e João Augusto Silva,que recebeu o primeiro prêmio de literatura colonial.Porém,a maior parte destes autores caracterizaram-se por uma abordagem paternalista ou próxima do discurso colonial.Durante esse período apenas uam figura guineense se destaca :o Cônego Marcelino Marques de Barros, que deixou trabalhos no domínio da etnografia,nomeadamente “ A literatura dos negros” e uma colaboração com caráter literário,dispersa em obras diversas.A ele se deve a recolha e a tradução de contos e canções guineenses em diferentes publicações e numa obra editada em Lisboa em 1990,intitulada “Contos ,Canções e Parábolas”.
II. O PERÍODO ENTRE 1945 E 1970
Uma poesia de combate
Neste período surgem os primeiros poetas guineenses: Vasco Cabral e António Baticã Ferreira, Amilcar Cabral, com uma dupla ligação à Guiné e Cabo Verde, faz também parte desta geração de escritores nacionalistas. A literatura deste período caracteriza-se pelo surgimento da poesia de combate que denuncia a dominação, a miséria e o sofrimento, incitando à luta de libertação.
Embora os primeiros poemas de Amilcar Cabral revelem um autor cabo-verdiano, a maior parte da sua obra literária é dominada por um cunho universalista, marcada pela contestação e incitação à luta.
III. DOS ANOS 1970 AO FIM DOS ANOS 1980
Uma literatura exclusivamente poética: da poesia de combate à poesia intimista
Com a independência do país, surge uma vaga de jovens poetas, cujas obras impregnadas de um espírito revolucionário, manifestam um caráter social. Os autores mais representativos são: Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwartz, Helder Proença, Francisco Conduto de Pina, Félix Sigá.
O colonialismo, a escravatura e a repressão são denunciados por esses autores que, no pós independência imediata apela para a construção da Nação e invocam a liberdade e a esperança num futuro melhor. O tema da identidade é abordado através de diferentes situações: a humilhação do colonizado, a alienação ou assimilação e a necessidade de afirmação da identidade nacional.
Note-se, porém que a questão de identidade não é apresentada como um fator de oposição entre o indivíduo e a sociedade na qual este evolui. Ela é analisada como um conflito pessoal do indivíduo, procura identificar-se com as suas raízes, da qual foi afastado pela assimilação colonial. Por conseguinte, nesta abordagem não se põe em causa a pertença do indivíduo à sociedade em questão.
As primeiras publicações poéticas surgiram em 1977, com a edição da primeira antologia “Mantenhas para quem luta”, editada pelo Conselho Nacional da Cultura. No ano seguinte, é publicada a “Antologia dos novos poetas / primeiros momentos da construção”. Estas duas obras consagram uma poesia que estimula à reconstrução do jovem país. Ainda em 1978, Francisco Conduto de Pina publicou o seu primeiro livro de poemas “Garandessa di nô tchon” e Pascoal D’Artagnan Aurigema editou “Djarama”,Helder Proença publicou em 1982 “Não posso adiar a palavra” com duas obras poéticas.Em 1990, surgiu uma nova coletânea poética, a “Antologia Poética da Guiné-Bissau” editada em Lisboa pela Editorial Inquérito, reunindo obras de quinze poetas, dos quais a maioria produz ainda uma poesia característica desta época.
IV. A PARTIR DA DÉCADA DE 1990
Uma poesia mais intimista.
O desencantamento dos sonhos da pós-independência imediato fez com que a euforia revolucionária abrisse espaço a uma poesia que se tornou mais pessoal, mais intimista, com a deslocação dos temas: Povo-Nação para o Indivíduo. Outros temas passaram a inspirar a criação literária, tais como o amor. De entre os seus autores citemos: Helder Proença, Tony Tcheca, Félix Sigá, Carlos Vieira, Odete Semedo.Embora o português continue a ser a língua dominante na poesia guineense, o recurso ao crioulo tornou-se mais frequente, quer pela escrita em crioulo, quer pela utilização de termos e expressões crioulas em textos em português. Várias são as publicações que dão conta destas inovações na literatura Bissau – guineense: “O Eco do Pranto” de Tony Tcheca em 1992, uma antologia temática sobre a criança, editada pela Editorial Inquérito em Lisboa; ”O silêncio das gaivotas” em 1996, o segundo livro de poemas de Francisco Conduto de Pina; “Kebur – Barkafon di poesia na kriol”, uma recolha de poemas em crioulo, editada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) em 1996; “Entre o Ser e o Amar”, uma recolha bilíngue português-crioulo de poemas de Odete Semedo, publicada também pelo INEP em 1996,“ Noites de insônia em terra adormecida”, um outro livro de poemas de Tony Tcheka publicado também em 1996 e “Um Cabaz de Amores - Une corbeille d’amours”, recolha bilíngue português-francês de poemas de Carlos Edmilson Vieira, publicada em 1998 pelas Editions Nouvelles du Sud em Paris.As primeiras bandas desenhadas de Fernando Júlio, exclusivamente em crioulo, apareceram na década de oitenta. Trata-se essencialmente de sátiras sociais que tiveram um grande sucesso. A música, onde a poesia crioula tem quase a exclusividade, foi também marcada pela exultação da reconstrução nacional.
A prosa
Em 1993 a prosa aparece na literatura contemporânea bissau-guineense. Foi Domingas Sami que inaugurou este estilo com uma recolha de contos “A escola” sobre a condição feminina na sociedade nacional. Em 1994, surge o primeiro romance de Abdulai Silá, “Eterna Paixão” , que publicou outros dois romances: “A última tragédia”, traduzido para francês e “Mistida”em 1997. Na sua obra Silá põe em destaque a coabitação na sociedade colonial das duas comunidades presentes, a colonizadora e a colonizada. A transição para uma sociedade pós-colonial onde uma nova elite saída da luta de libertação se instala no poder, fazendo contrastar o seu discurso revolucionário com uma prática desastrosa no governo do país, é visitada pela pluma atenta do escritor. O seu romance “Mistida” publicado um ano antes do início da guerra civil de 1998/1999, é considerada pelos críticos literários como uma obra profética. Em 1997, Carlos Lopes, autor de numerosas obras de caráter histórico, sociológico e político, inaugura a sua incursão na literatura nacional com a publicação de “Corte Geral”, uma recolha de crônicas, na qual, com muito humor, descreve situações reveladoras do surrealismo que caracteriza a sociedade guineense de todos os tempos.Um outro escritor se impõe em 1998 na cena literária: Filinto Barros, com o seu primeiro romance “Kikia Matcho”,que mergulha o leitor no mundo mágico e místico africano, abordando a vida decadente da capital nos anos 1990 e o sonho falhado que representa a emigração.
Em 1999, Filomena Embaló publicou também o seu primeiro romance, “Tiara”, que levanta o véu do delicado tema da integração familiar e social no seio da própria sociedade africana. Carlos Edmilson Vieira, em 2000, editou “Contos de N’Nori”, uma recolha de contos que evocam lendas e costumes populares, recordações de brincadeiras da juventude e as mudanças sociais e políticas da sociedade guineense. Constata-se que a literatura contemporânea bissau-guineense, nas suas diversas formas, tem uma constante : pela pluma dos seus escritores, ela retrata as desilusões, os medos e as aspirações da população perante a situação política, social e econômica que prevalece no país.
Referência:
Disponível em: http; //www.didinho.org/resenhaliteraria.html.
Acesso em:30/10/10.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL
Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as
bibliotecas do planeta.
Tem, sobretudo, caráter patrimonial, antecipou em LA NACIÓN Abdelaziz Abid, coordenador do projeto impulsionado pela UNESCO e outras 32 instituições.
A BDM não oferecerá documentos correntes, a
não ser "com valor de patrimônio, que permitirão apreciar e conhecer melhor as culturas do mundo em idiomas diferentes:
árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português.
Mas há documentos em linha em mais de 50 idiomas".
Entre os documentos mais antigos há alguns códices precolombianos, graças à contribuição do México, e os primeiros mapas da América,
desenhados por Diego Gutiérrez para o rei de Espanha em 1562", explicou Abid.
Os tesouros incluem o Hyakumanto Darani , um documento em japonês
publicado no ano 764 e considerado o primeiro texto impresso da história;
um relato dos aztecas que constitui a primeira menção do
Menino Jesus no Novo Mundo;
trabalhos de cientistas árabes desvelando o mistério da álgebra;
ossos utilizados como oráculos e esteiras chinesas;
a Bíblia de Gutenberg; antigas fotos latino-americanas da
Biblioteca Nacional do Brasil e a célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.
Fácil de navegar:
Cada jóia da cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação do seu conteúdo e seu significado. Os documentos foram passados por scanners e incorporados no seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas O PORTUGUÊS. A biblioteca começa com 1200 documentos,
mas foi pensada para receber um
número ilimitado de textos, gravuras, mapas, fotografias e ilustrações.
Como se acede ao sítio global?
Embora seja apresentado oficialmente na sede da UNESCO, em Paris, a Biblioteca Digital Mundial já está disponível na Internet, através do sítio:
http://www.wdl.org/pt/
O acesso é gratuito e os usuários podem ingressar diretamente pela Web , sem necessidade de se registrarem.
Permite ao internauta orientar a sua busca por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e instituição. O sistema propõe as explicações em sete idiomas (árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português), embora os originas existam na sua língua original.
Desse modo, é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Ioann Veniamiov, em 1840. Com um simples clique, podem-se passar as páginas
de um livro, aproximar ou afastar os textos e movê-los em todos os sentidos. A excelente definição das imagens permite uma leitura cómoda e minuciosa.
Entre as jóias que contem no momento a BDM está a Declaração de Independência dos Estados Unidos, assim como as Constituições de numerosos países; um texto japonês do século XVI considerado a primeira impressão da história; o jornal de um estudioso veneziano que
acompanhou Fernão de Magalhães na sua viagem ao redor do mundo; o original das "Fábulas" de La Fontaine, o primeiro livro publicado nas Filipinas em espanhol e tagalog, a Bíblia de Gutemberg, e umas pinturas rupestres africanas que datam de 8.000 A.C.
Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas:
América Latina e Médio Oriente. Isso deve-se à ativa participação da Biblioteca Nacional
do Brasil, à Biblioteca de Alexandria no Egito e
à Universidade Rei Abdulá da Arábia Saudita.
A estrutura da BDM foi decalcada do projecto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e
atualmente contém 11 milhões de documentos em linha.
Os seus responsáveis afirmam que a BDM está, sobretudo, destinada a investigadores, professores e alunos. Mas a importância que reveste esse sítio vai muito além da
incitação ao estudo das novas gerações que vivem num mundo audiovisual.
bibliotecas do planeta.
Tem, sobretudo, caráter patrimonial, antecipou em LA NACIÓN Abdelaziz Abid, coordenador do projeto impulsionado pela UNESCO e outras 32 instituições.
A BDM não oferecerá documentos correntes, a
não ser "com valor de patrimônio, que permitirão apreciar e conhecer melhor as culturas do mundo em idiomas diferentes:
árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português.
Mas há documentos em linha em mais de 50 idiomas".
Entre os documentos mais antigos há alguns códices precolombianos, graças à contribuição do México, e os primeiros mapas da América,
desenhados por Diego Gutiérrez para o rei de Espanha em 1562", explicou Abid.
Os tesouros incluem o Hyakumanto Darani , um documento em japonês
publicado no ano 764 e considerado o primeiro texto impresso da história;
um relato dos aztecas que constitui a primeira menção do
Menino Jesus no Novo Mundo;
trabalhos de cientistas árabes desvelando o mistério da álgebra;
ossos utilizados como oráculos e esteiras chinesas;
a Bíblia de Gutenberg; antigas fotos latino-americanas da
Biblioteca Nacional do Brasil e a célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.
Fácil de navegar:
Cada jóia da cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação do seu conteúdo e seu significado. Os documentos foram passados por scanners e incorporados no seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas O PORTUGUÊS. A biblioteca começa com 1200 documentos,
mas foi pensada para receber um
número ilimitado de textos, gravuras, mapas, fotografias e ilustrações.
Como se acede ao sítio global?
Embora seja apresentado oficialmente na sede da UNESCO, em Paris, a Biblioteca Digital Mundial já está disponível na Internet, através do sítio:
http://www.wdl.org/pt/
O acesso é gratuito e os usuários podem ingressar diretamente pela Web , sem necessidade de se registrarem.
Permite ao internauta orientar a sua busca por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e instituição. O sistema propõe as explicações em sete idiomas (árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português), embora os originas existam na sua língua original.
Desse modo, é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Ioann Veniamiov, em 1840. Com um simples clique, podem-se passar as páginas
de um livro, aproximar ou afastar os textos e movê-los em todos os sentidos. A excelente definição das imagens permite uma leitura cómoda e minuciosa.
Entre as jóias que contem no momento a BDM está a Declaração de Independência dos Estados Unidos, assim como as Constituições de numerosos países; um texto japonês do século XVI considerado a primeira impressão da história; o jornal de um estudioso veneziano que
acompanhou Fernão de Magalhães na sua viagem ao redor do mundo; o original das "Fábulas" de La Fontaine, o primeiro livro publicado nas Filipinas em espanhol e tagalog, a Bíblia de Gutemberg, e umas pinturas rupestres africanas que datam de 8.000 A.C.
Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas:
América Latina e Médio Oriente. Isso deve-se à ativa participação da Biblioteca Nacional
do Brasil, à Biblioteca de Alexandria no Egito e
à Universidade Rei Abdulá da Arábia Saudita.
A estrutura da BDM foi decalcada do projecto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e
atualmente contém 11 milhões de documentos em linha.
Os seus responsáveis afirmam que a BDM está, sobretudo, destinada a investigadores, professores e alunos. Mas a importância que reveste esse sítio vai muito além da
incitação ao estudo das novas gerações que vivem num mundo audiovisual.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
OS PROTOCOLOS DE SIÃO
Clássico do antissemitismo, ajudou a divulgar a mentira da “conspiração-judaica-para-dominar-o-mundo”. Obra apócrifa, cheia de absurdos, sua autoria foi atribuída, como parte da lenda, a uma suposta cabala judaica, mas foi escrita mesmo pela polícia czarista russa.
Livro do Baixe Livroterça-feira, 12 de outubro de 2010
PRÊMIO JABUTI
A 52ª edição do Jabuti, o mais prestigioso prêmio literário do país, anunciou os vencedores de 2010. Foram premiados três livros em cada uma das 21 categorias, todos publicados no ano passado. Veja abaixo a lista dos livros vencedores nas categorias Romance, Contos e Crônicas, Poesia e Biografia – o prêmio agracia ainda tradutores, livros técnicos, médicos e jurídicos. A lista completa pode ser conferida no site oficial da premiação, que será entregue no próximo dia 4 de novembro. O jornalista e escritor Edney Silvestre, que em agosto havia conquistado o Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Autor Estreante, foi o grande vencedor do Jabuti, conquistando a categoria Romance.
Romance
1º Se Eu Fechar os Olhos, Edney Silvestre (Record)
2º Leite Derramado, Chico Buarque (Companhia das Letras)
3º Os Espiões, Luis Fernando Veríssimo (Objetiva)
Contos e Crônicas
1º Eu Perguntei pro Velho se Ele Queria Morrer (e Outras Histórias de Amor), José Rezende Jr. (7Letras)
2º A Máquina de Revelar Destinos Não Cumpridos, Vário do Andaraí (Dimensão)
3º Paulicéia Dilacerada, Mario Chamie (Funpec)
Poesia
1º Passageira em Trânsito, Marina Colasanti (Record)
2º Sangradas Escrituras, Reynaldo Jardim Silveira (Star Print)
3º Lar, Armando Freitas Filho (Companhia das Letras)
Biografia
1º Nem Vem que Não Tem: Vida e Veneno de Wilson Simonal, Ricardo Alexandre (Globo)
2º Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão, Lira Neto (Companhia das Letras)
3º Euclides da Cunha: Uma Odisséia nos Trópicos, Frederic Armony (Ateliê Editorial)
4º Bendito, Maldito: uma Biografia de Plínio Marcos, Oswaldo Mendes (Leya)
Nota: as biografias de Padre Cícero e Euclides da Cunha empataram em segundo lugar
Romance
1º Se Eu Fechar os Olhos, Edney Silvestre (Record)
2º Leite Derramado, Chico Buarque (Companhia das Letras)
3º Os Espiões, Luis Fernando Veríssimo (Objetiva)
Contos e Crônicas
1º Eu Perguntei pro Velho se Ele Queria Morrer (e Outras Histórias de Amor), José Rezende Jr. (7Letras)
2º A Máquina de Revelar Destinos Não Cumpridos, Vário do Andaraí (Dimensão)
3º Paulicéia Dilacerada, Mario Chamie (Funpec)
Poesia
1º Passageira em Trânsito, Marina Colasanti (Record)
2º Sangradas Escrituras, Reynaldo Jardim Silveira (Star Print)
3º Lar, Armando Freitas Filho (Companhia das Letras)
Biografia
1º Nem Vem que Não Tem: Vida e Veneno de Wilson Simonal, Ricardo Alexandre (Globo)
2º Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão, Lira Neto (Companhia das Letras)
3º Euclides da Cunha: Uma Odisséia nos Trópicos, Frederic Armony (Ateliê Editorial)
4º Bendito, Maldito: uma Biografia de Plínio Marcos, Oswaldo Mendes (Leya)
Nota: as biografias de Padre Cícero e Euclides da Cunha empataram em segundo lugar
PORQUÊ LER OS CLÁSSICOS
Italo Calvino traz-nos em Porquê ler os clássicos uma pequena coletânea de ensaios reunidos a respeito de algumas obras consideradas clássicas por ele, é claro! Algumas delas já bem conhecidas da maioria: A Odisséia (Homero), a Retirada dos Dez Mil (Ovídio), Robinson Crusoé(Daniel Defoe), Jacques Le Fataliste(Denis Diderot)..etc. A grande questão que fazemos é: Por que ler os clássicos? questão esta que oautor nos responde de modo claro e compreensivo com quatorze respostas satisfatórias. Esse livro é importante para todo(a) aquele(a) que se interessa por Literatura (a grande e boa Literatura), e não tem uma visão particular(?) da idéia de clássico e quer apreender um conceito aceitável. Calvino nos deixa esclarecidos de que clássicos são os livros de que se costuma ouvir dizer: estou a reler... e nunca "estou a ler". Vale a pena ler Calvino!
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
THE TOP 100 BOOKS OF ALL TIME
The top 100 books of all time
Full list of the 100 best works of fiction, alphabetically by author, as determined from a vote by 100 noted writers from 54 countries as released by the Norwegian Book Clubs. Don Quixote was named as the top book in history but otherwise no ranking was provided
More on the best books from writers, critics and readers
More on the best books from writers, critics and readers
- guardian.co.uk, Wednesday 8 May 2002 10.58 BST
- Article history
Chinua Achebe, Nigeria, (b. 1930), Things Fall Apart
Hans Christian Andersen, Denmark, (1805-1875), Fairy Tales and Stories
Jane Austen, England, (1775-1817), Pride and Prejudice
Honore de Balzac, France, (1799-1850), Old Goriot
Samuel Beckett, Ireland, (1906-1989), Trilogy: Molloy, Malone Dies, The Unnamable
Giovanni Boccaccio, Italy, (1313-1375), Decameron
Jorge Luis Borges, Argentina, (1899-1986), Collected Fictions
Emily Bronte, England, (1818-1848), Wuthering Heights
Albert Camus, France, (1913-1960), The Stranger
Paul Celan, Romania/France, (1920-1970), Poems.
Louis-Ferdinand Celine, France, (1894-1961), Journey to the End of the Night
Miguel de Cervantes Saavedra, Spain, (1547-1616), Don Quixote
Geoffrey Chaucer, England, (1340-1400), Canterbury Tales
Anton P Chekhov, Russia, (1860-1904), Selected Stories
Joseph Conrad, England,(1857-1924), Nostromo
Dante Alighieri, Italy, (1265-1321), The Divine Comedy
Charles Dickens, England, (1812-1870), Great Expectations
Denis Diderot, France, (1713-1784), Jacques the Fatalist and His Master
Alfred Doblin, Germany, (1878-1957), Berlin Alexanderplatz
Fyodor M Dostoyevsky, Russia, (1821-1881), Crime and Punishment; The Idiot; The Possessed; The Brothers Karamazov
George Eliot, England, (1819-1880), Middlemarch
Ralph Ellison, United States, (1914-1994), Invisible Man
Euripides, Greece, (c 480-406 BC), Medea
William Faulkner, United States, (1897-1962), Absalom, Absalom; The Sound and the Fury
Gustave Flaubert, France, (1821-1880), Madame Bovary; A Sentimental Education
Federico Garcia Lorca, Spain, (1898-1936), Gypsy Ballads
Gabriel Garcia Marquez. Colombia, (b. 1928), One Hundred Years of Solitude; Love in the Time of Cholera
Gilgamesh, Mesopotamia (c 1800 BC).
Johann Wolfgang von Goethe, Germany, (1749-1832), Faust
Nikolai Gogol, Russia, (1809-1852), Dead Souls
Gunter Grass, Germany, (b.1927), The Tin Drum
Joao Guimaraes Rosa, Brazil, (1880-1967), The Devil to Pay in the Backlands
Knut Hamsun, Norway, (1859-1952), Hunger.
Ernest Hemingway, United States, (1899-1961), The Old Man and the Sea
Homer, Greece, (c 700 BC), The Iliad and The Odyssey
Henrik Ibsen, Norway (1828-1906), A Doll's House
The Book of Job, Israel. (600-400 BC).
James Joyce, Ireland, (1882-1941), Ulysses
Franz Kafka, Bohemia, (1883-1924), The Complete Stories; The Trial; The Castle Bohemia
Kalidasa, India, (c. 400), The Recognition of Sakuntala
Yasunari Kawabata, Japan, (1899-1972), The Sound of the Mountain
Nikos Kazantzakis, Greece, (1883-1957), Zorba the Greek
DH Lawrence, England, (1885-1930), Sons and Lovers
Halldor K Laxness, Iceland, (1902-1998), Independent People
Giacomo Leopardi, Italy, (1798-1837), Complete Poems
Doris Lessing, England, (b.1919), The Golden Notebook
Astrid Lindgren, Sweden, (1907-2002), Pippi Longstocking
Lu Xun, China, (1881-1936), Diary of a Madman and Other Stories
Mahabharata, India, (c 500 BC).
Naguib Mahfouz, Egypt, (b. 1911), Children of Gebelawi
Thomas Mann, Germany, (1875-1955), Buddenbrook; The Magic Mountain
Herman Melville, United States, (1819-1891), Moby Dick
Michel de Montaigne, France, (1533-1592), Essays.
Elsa Morante, Italy, (1918-1985), History
Toni Morrison, United States, (b. 1931), Beloved
Shikibu Murasaki, Japan, (N/A), The Tale of Genji Genji
Robert Musil, Austria, (1880-1942), The Man Without Qualities
Vladimir Nabokov, Russia/United States, (1899-1977), Lolita
Njaals Saga, Iceland, (c 1300).
George Orwell, England, (1903-1950), 1984
Ovid, Italy, (c 43 BC), Metamorphoses
Fernando Pessoa, Portugal, (1888-1935), The Book of Disquiet
Edgar Allan Poe, United States, (1809-1849), The Complete Tales
Marcel Proust, France, (1871-1922), Remembrance of Things Past
Francois Rabelais, France, (1495-1553), Gargantua and Pantagruel
Juan Rulfo, Mexico, (1918-1986), Pedro Paramo
Jalal ad-din Rumi, Afghanistan, (1207-1273), Mathnawi
Salman Rushdie, India/Britain, (b. 1947), Midnight's Children
Sheikh Musharrif ud-din Sadi, Iran, (c 1200-1292), The Orchard
Tayeb Salih, Sudan, (b. 1929), Season of Migration to the North
Jose Saramago, Portugal, (b. 1922), Blindness
William Shakespeare, England, (1564-1616), Hamlet; King Lear; Othello
Sophocles, Greece, (496-406 BC), Oedipus the King
Stendhal, France, (1783-1842), The Red and the Black
Laurence Sterne, Ireland, (1713-1768), The Life and Opinions of Tristram Shandy
Italo Svevo, Italy, (1861-1928), Confessions of Zeno
Jonathan Swift, Ireland, (1667-1745), Gulliver's Travels
Leo Tolstoy, Russia, (1828-1910), War and Peace; Anna Karenina; The Death of Ivan Ilyich and Other Stories
Thousand and One Nights, India/Iran/Iraq/Egypt, (700-1500).
Mark Twain, United States, (1835-1910), The Adventures of Huckleberry Finn
Valmiki, India, (c 300 BC), Ramayana
Virgil, Italy, (70-19 BC), The Aeneid
Walt Whitman, United States, (1819-1892), Leaves of Grass
Virginia Woolf, England, (1882-1941), Mrs. Dalloway; To the Lighthouse
Marguerite Yourcenar, France, (1903-1987), Memoirs of Hadrian
Hans Christian Andersen, Denmark, (1805-1875), Fairy Tales and Stories
Jane Austen, England, (1775-1817), Pride and Prejudice
Honore de Balzac, France, (1799-1850), Old Goriot
Samuel Beckett, Ireland, (1906-1989), Trilogy: Molloy, Malone Dies, The Unnamable
Giovanni Boccaccio, Italy, (1313-1375), Decameron
Jorge Luis Borges, Argentina, (1899-1986), Collected Fictions
Emily Bronte, England, (1818-1848), Wuthering Heights
Albert Camus, France, (1913-1960), The Stranger
Paul Celan, Romania/France, (1920-1970), Poems.
Louis-Ferdinand Celine, France, (1894-1961), Journey to the End of the Night
Miguel de Cervantes Saavedra, Spain, (1547-1616), Don Quixote
Geoffrey Chaucer, England, (1340-1400), Canterbury Tales
Anton P Chekhov, Russia, (1860-1904), Selected Stories
Joseph Conrad, England,(1857-1924), Nostromo
Dante Alighieri, Italy, (1265-1321), The Divine Comedy
Charles Dickens, England, (1812-1870), Great Expectations
Denis Diderot, France, (1713-1784), Jacques the Fatalist and His Master
Alfred Doblin, Germany, (1878-1957), Berlin Alexanderplatz
Fyodor M Dostoyevsky, Russia, (1821-1881), Crime and Punishment; The Idiot; The Possessed; The Brothers Karamazov
George Eliot, England, (1819-1880), Middlemarch
Ralph Ellison, United States, (1914-1994), Invisible Man
Euripides, Greece, (c 480-406 BC), Medea
William Faulkner, United States, (1897-1962), Absalom, Absalom; The Sound and the Fury
Gustave Flaubert, France, (1821-1880), Madame Bovary; A Sentimental Education
Federico Garcia Lorca, Spain, (1898-1936), Gypsy Ballads
Gabriel Garcia Marquez. Colombia, (b. 1928), One Hundred Years of Solitude; Love in the Time of Cholera
Gilgamesh, Mesopotamia (c 1800 BC).
Johann Wolfgang von Goethe, Germany, (1749-1832), Faust
Nikolai Gogol, Russia, (1809-1852), Dead Souls
Gunter Grass, Germany, (b.1927), The Tin Drum
Joao Guimaraes Rosa, Brazil, (1880-1967), The Devil to Pay in the Backlands
Knut Hamsun, Norway, (1859-1952), Hunger.
Ernest Hemingway, United States, (1899-1961), The Old Man and the Sea
Homer, Greece, (c 700 BC), The Iliad and The Odyssey
Henrik Ibsen, Norway (1828-1906), A Doll's House
The Book of Job, Israel. (600-400 BC).
James Joyce, Ireland, (1882-1941), Ulysses
Franz Kafka, Bohemia, (1883-1924), The Complete Stories; The Trial; The Castle Bohemia
Kalidasa, India, (c. 400), The Recognition of Sakuntala
Yasunari Kawabata, Japan, (1899-1972), The Sound of the Mountain
Nikos Kazantzakis, Greece, (1883-1957), Zorba the Greek
DH Lawrence, England, (1885-1930), Sons and Lovers
Halldor K Laxness, Iceland, (1902-1998), Independent People
Giacomo Leopardi, Italy, (1798-1837), Complete Poems
Doris Lessing, England, (b.1919), The Golden Notebook
Astrid Lindgren, Sweden, (1907-2002), Pippi Longstocking
Lu Xun, China, (1881-1936), Diary of a Madman and Other Stories
Mahabharata, India, (c 500 BC).
Naguib Mahfouz, Egypt, (b. 1911), Children of Gebelawi
Thomas Mann, Germany, (1875-1955), Buddenbrook; The Magic Mountain
Herman Melville, United States, (1819-1891), Moby Dick
Michel de Montaigne, France, (1533-1592), Essays.
Elsa Morante, Italy, (1918-1985), History
Toni Morrison, United States, (b. 1931), Beloved
Shikibu Murasaki, Japan, (N/A), The Tale of Genji Genji
Robert Musil, Austria, (1880-1942), The Man Without Qualities
Vladimir Nabokov, Russia/United States, (1899-1977), Lolita
Njaals Saga, Iceland, (c 1300).
George Orwell, England, (1903-1950), 1984
Ovid, Italy, (c 43 BC), Metamorphoses
Fernando Pessoa, Portugal, (1888-1935), The Book of Disquiet
Edgar Allan Poe, United States, (1809-1849), The Complete Tales
Marcel Proust, France, (1871-1922), Remembrance of Things Past
Francois Rabelais, France, (1495-1553), Gargantua and Pantagruel
Juan Rulfo, Mexico, (1918-1986), Pedro Paramo
Jalal ad-din Rumi, Afghanistan, (1207-1273), Mathnawi
Salman Rushdie, India/Britain, (b. 1947), Midnight's Children
Sheikh Musharrif ud-din Sadi, Iran, (c 1200-1292), The Orchard
Tayeb Salih, Sudan, (b. 1929), Season of Migration to the North
Jose Saramago, Portugal, (b. 1922), Blindness
William Shakespeare, England, (1564-1616), Hamlet; King Lear; Othello
Sophocles, Greece, (496-406 BC), Oedipus the King
Stendhal, France, (1783-1842), The Red and the Black
Laurence Sterne, Ireland, (1713-1768), The Life and Opinions of Tristram Shandy
Italo Svevo, Italy, (1861-1928), Confessions of Zeno
Jonathan Swift, Ireland, (1667-1745), Gulliver's Travels
Leo Tolstoy, Russia, (1828-1910), War and Peace; Anna Karenina; The Death of Ivan Ilyich and Other Stories
Thousand and One Nights, India/Iran/Iraq/Egypt, (700-1500).
Mark Twain, United States, (1835-1910), The Adventures of Huckleberry Finn
Valmiki, India, (c 300 BC), Ramayana
Virgil, Italy, (70-19 BC), The Aeneid
Walt Whitman, United States, (1819-1892), Leaves of Grass
Virginia Woolf, England, (1882-1941), Mrs. Dalloway; To the Lighthouse
Marguerite Yourcenar, France, (1903-1987), Memoirs of Hadrian
domingo, 10 de outubro de 2010
AS PENAS DO AMOR
As penas do amor
(Título Original: "The sorrow of Love")
Autor: William Butler Yeats
Tradutor: André C S Masini
Sobre os telhados a algazarra dos pardais,
Redonda e cheia a lua - e céu de mil estrelas,
E as folhas sempre a murmurar seus recitais,
Haviam esquecido o mundo e suas mazelas.
Redonda e cheia a lua - e céu de mil estrelas,
E as folhas sempre a murmurar seus recitais,
Haviam esquecido o mundo e suas mazelas.
Então chegaram teus soturnos lábios rosas,
E junto a eles todas lágrimas da terra,
E o drama dos navios em águas tempestuosas
E o drama dos milhares de anos que ela encerra.
E junto a eles todas lágrimas da terra,
E o drama dos navios em águas tempestuosas
E o drama dos milhares de anos que ela encerra.
E agora, no telhado a guerra dos pardais,
A lua pálida, e no céu brancas estrelas,
De inquietas folhas, cantilenas sempre iguais,
Estão tremendo - sob o mundo e suas mazelas.
A lua pálida, e no céu brancas estrelas,
De inquietas folhas, cantilenas sempre iguais,
Estão tremendo - sob o mundo e suas mazelas.
Copyright © André C S Masini, 2000
Todos os direitos reservados. Tradução publicada originalmente
no livro "Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa"
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Fahrenheit 451 (filme)
Fahrenheit 451 (filme)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Fahrenheit 451 | |
---|---|
Grau de Destruição (PT) Farenheit 451 (BR) | |
Reino Unido 1966 • cor • 112 min | |
Produção | |
Direção | François Truffaut |
Produção | Lewis M. Allen |
Produção executiva | Miriam Brickman |
Roteiro | François Truffaut Jean-Louis Richard David Rudkin Helen Scott |
Elenco original | Oskar Werner Julie Christie Cyril Cusack |
Género | ficção científica |
Idioma original | Inglês |
Música | Bernard Herrmann |
Diretor de arte | Syd Cain |
Efeitos especiais | Charles Staffell Les Bowie |
Figurino | Tony Walton |
Cinematografia | Nicolas Roeg |
Estúdio | Anglo Enterprises Vineyard Film Ltd. |
Distribuição | J. Arthur Rank Film Distributors Universal Home Video |
Lançamento | setembro de 1966 |
Adoro Cinema IMDb: (inglês) (português) | |
Projeto Cinema • Portal Cinema |
Índice[esconder] |
Sinopse
Aviso: Este artigo ou seção contém revelações sobre o enredo (spoilers).
Num futuro hipotético, os livros e toda forma de escrita são proibidos por um regime totalitário, sob o argumento de que fazem as pessoas infelizes e improdutivas.Se alguém é flagrado lendo é preso e "reeducado". Se uma casa tem muitos livros e um vizinho denuncia, os "bombeiros" são chamados para incendiá-la. Montag é um desses bombeiros. Chamado para agir numa casa "condenada", ele começa a furtar livros para ler. Seu comportamento começa a mudar, até que sua mulher, Linda, desconfia e o denuncia. Enquanto isso, ele mantém amizade com Clarisse, uma mulher que conhecera no metrô.
Ela o incentiva e, quando ele começa a ser perseguido (e morto, segundo a versão televisiva oficial), ela o leva à terra dos homens-livro, uma comunidade formada por pessoas que memorizavam seus livros e também eram perseguidas. Essas pessoas decoravam os livros, para publicá-los quando não fossem mais proibidos, e os destruíam.
Nome | Personagem |
---|---|
Oskar Werner | Guy Montag |
Julie Christie | Clarisse / Linda Montag |
Cyril Cusack | Capitão |
Anton Diffring | Fabian |
Jeremy Spenser | Homem com a maçã |
Gillian Aldam | Mulher judoka |
Ann Bell | Doris |
Arthur Cox | Enfermeiro |
Kevin Elder | Robert |
Joan Francis | Telefonista |
Arthur Haynes | Homem do trem com computador |
Caroline Hunt | Helen |
Edward Kaye | Homem judoka |
Mark Lester | Escolar #2 |
Principais prêmios e indicações
BAFTA 1967 (Reino Unido)[1]- Indicado na categoria de melhor atriz (Julie Christie).
Festival de Veneza 1966 (Itália)[1]
- Foi indicado ao prêmio Leão de Ouro
- Indicado Categoria Melhor Apresentação Dramátic Produção
- Os créditos iniciais do filme não são escritos, mas narrados, para antecipar o clima de leitura proibida. Nesse momento, são mostradas várias antenas de TV nas casas.[2]
- O ator Oskar Werner se desentendeu com o diretor, e mudou o cabelo na última cena só para gerar um erro proposital de continuidade.[3]
- Entre as obras queimadas durante uma ação dos bombeiros, podem-se ver Fahrenheit 451 — o livro que deu origem ao filme — e a revista Cahiers du Cinéma, revista na qual o diretor escrevia.[2]
- Um diálogo entre Montag e seu superior no esquadrão:
— O que faz nas horas de folga, Montag? — Muita coisa... corto a grama... — E se fosse proibido? — Ficaria olhando crescer, senhor. — Você tem futuro. | — ' |
sábado, 25 de setembro de 2010
Otto Lara Resende - O elo partido
Gato gato gato
Familiar aos cacos de vidro inofensivos, o gato caminhava molengamente por cima do muro. O menino ia erguer-se, apanhar um graveto, respirar o hálito fresco do porão. Sua úmida penumbra. Mas a presença do gato. O gato, que parou indeciso, o rabo na pachorra de uma quase interrogação.
Luminoso sol a pino e o imenso céu azul, calado, sobre o quintal. O menino pactuando com a mudez de tudo em torno — árvores, bichos, coisas. Captando o inarticulado segredo das coisas. Inventando um ser sozinho, na tontura de imaginações espontâneas como um gás que se desprende.
Gato — leu no silêncio da própria boca. Na palavra não cabe o gato, toda a verdade de um gato. Aquele ali, ocioso, lento, emoliente — em cima do muro. As coisas aceitam a incompreensão de um nome que não está cheio delas. Mas bicho, carece nomear direito: como rinoceronte, ou girafa se tivesse mais uma sílaba para caber o pescoço comprido. Girafa, girafa. Gatinha, gatinho. Falta um nome completo, felinos e peludo, ronronante de astúcias adormecidas. O pisa-macio, as duas bandas de um gato. Pezinhos de um lado, pezinhos de outro, leve, bem de leve para não machucar o silêncio de feltro nas mãos enluvadas.
O pêlo do gato para alisar. Limpinho, o quente contato da mão no dorso, corcoveaste e nodoso à carícia. O lânguido sono de morfinômano. O marzinho de leite no pires e a língua secreta, ágil. A ninhada de gatos, os vacilantes filhotes de olhos cerrados. O novelo, a bola de papel — o menino e o gato brincando. Gato lúdico. O gato, mais felino do que o cachorro é canino. Gato persa, gato chim — o espirro do gato de olhos orientais. Gato de botas, as aristocráticas pantufas do gato. A manha do gato, gatinha: teve uma gata miolenta em segredo chamada Alemanha.
Em cima do muro, o gato recebeu o aviso da presença do menino. Ondulou de mansinho alguns passos denunciados apenas na branda alavanca das ancas. Passos irreal, em cima do muro eriçado de cacos de vidro. E o menino songamonga, quietinho, conspirando no quintal, acomodado com o silêncio de todas as coisas. No se olharem, o menino suspendeu a respiração, ameaçando de asfixia tudo que em torno dele com ele respirava, num só sistema pulmonar. O translúcido manto de calma sobre o claustro dos quintais. O coração do menino batendo baixinho. O gato olhando o menino vegetalmente nascendo do chão, como árvore desarmada e inofensiva. A incidência, a inocência dos vegetais.
O ar de enfado, de sabe-tudo do gato: a linha da boca imperceptível, os bigodes pontudos, tensos por hábito. As orelhas acústicas. O rabo desmanchado, mas alerta como um leme. O pequeno focinho úmido embutido na cara séria e grave. A tona dos olhos reverberando como laguinhos ao sol. Nenhum movimento na estátua viva de um gato. Garras e presas remotas, antigas.
Menino e gato ronronando em harmonia com a pudica intimidade do quintal. Muro, menino, cacos de vidro, gato, árvores, sol e céu azul: o milagre da comunicação perfeita. A comunhão dentro de um mesmo barco. O que existe aqui, agora, lado a lado, navegando. A confidência essencial prestes a exalar, e sempre adiada. E nunca. O gato, o menino, as coisas: a vida túmida e solidária. O teimoso segredo sem fala possível. Do muro ao menino, da pedra ao gato: como a árvore e a sombra da árvore.
O gato olhou amarelo o menino. O susto de dois seres que se agridem só por se defenderem. Por existirem e, não sendo um, se esquivarem. Quatro olhos luminosos — e todas as coisas opacas por testemunha. O estúpido muro coroado de cacos de vidro. O menino sentado, tramando uma posição mais prática. O gato de pé, vigilantemente quadrúpede e, no equilíbrio atento, a centelha felina. Seu íntimo compromisso de astúcia.
O menino desmanchou o desejo de qualquer gesto. Gaturufo, inventou o menino, numa traiçoeira tentativa de aliança e amizade. O gato, organizado para a fuga, indagava. Repelia. Interrogava o momento da ruptura — como um toque que desperta da hipnose. Deu três passos de veludo e parou, retesando as patas traseiras, as patas dianteiras na iminência de um bote para onde? Um salto acrobático sobre um rato atávico, inexistente.
Por um momento, foi como se o céu desabasse de seu azul: duas rolinhas desceram vertiginosas até o chão. Beliscaram levianas um grãozinho de nada e de novo cortaram o ar excitadas, para longe.
O menino forcejando por nomear o gato, por decifrá-lo. O gato mais igual a todos os gatos do que a si mesmo. Impossível qualquer intercâmbio: gato e menino não cabem num só quintal. Um muro permanente entre o menino e o gato. Entre todos os seres emparedados, o muro. A divisa, o limite. O odioso mundo de fora do menino, indecifrável. Tudo que não é o menino, tudo que é inimigo.
Nenhum rumor de asas, todas fechadas. Nenhum rumor.
Ah, o estilingue distante — suspira o menino no seu mais oculto silêncio. E o gato consulta com a língua as presas esquecidas, mas afiadas. Todos os músculos a postos, eletrizados. As garras despertas unhando o muro entre dois abismos.
O gato, o alvo: a pedrada passou assobiando pela crista do muro. O gato correu elástico e cauteloso, estacou um segundo e despencou-se do outro lado, sobre o quintal vizinho. Inatingível às pedras e ao perigoso desafio de dois seres a se medirem, sumiu por baixo da parreira espaçada ao sol.
O tiro ao alvo sem alvo. A pedrada sem o gato. Como um soco no ar: a violência que não conclui, que se perde no vácuo. De cima do muro, o menino devassa o quintal vizinho. A obsedante presença de um gato ausente. Na imensa prisão do céu azul, flutuam distantes as manchas pretas dos urubus. O bailado das asas soltas ao sabor dos ventos das alturas.
O menino pisou com o calcanhar a procissão de formigas atarantadas. Só então percebeu que lhe escorria do joelho esfolado um filete de sangue. Saiu manquitolando pelo portão, ganhou o patiozinho do fundo da casa. A sola dos pés nas pedras lisas e quentes. À passagem do menino, uma galinha sacudiu no ar parado a sua algazarra histérica.
A casa sem aparente presença humana.
Agarrou-se à janela, escalou o primeiro muro, o segundo, e alcançou o telhado. Andava descalço sobre o limo escorregadio das telhas escuras, retendo o enfadonho peso do corpo como quem segura a respiração. O refúgio debaixo da caixa-d'água, a fresca acolhida da sombra. Na caixa, a água gorgolejante numa golfada de ar. Afastou o tijolo da coluna e enfiou a mão: bolas de gude, o canivete roubado, dois caramujos com as lesmas salgadas na véspera. O mistério. Pessoal, vedado aos outros. Uma pratinha azinhavrada, o ainda perfume da caixa de sabonete. A estampa de São José, lembrança da Primeira Comunhão.
Apoiado nos cotovelos, o menino apanhou uma joaninha que se encolheu, hermética. A joaninha indevassável, na palma da mão. E o súbito silêncio da caixa-d'água, farta, sua sede saciada.
Do outro lado da cidade, partiram solenes quatro badaladas no relógio da Matriz. O menino olhou a esfera indiferente do céu azul, sem nuvens. O mundo é redondo, Deus é redondo, todo segredo é redondo.
As casas escarrapachadas, dando-se as costas, os quintais se repetindo na modorra da mesma tarde sem data.
Até que localizou embaixo, enrodilhado à sombra, junto do tanque: um gato. Dormindo, a cara escondida entre as patas, a cauda invisível. Amarelo, manchado de branco de um lado da cabeça: era um gato. Na sua mira. Em cima do muro ou dormindo, rajado ou amarelo, todos os gatos, hoje ou amanhã, são o mesmo gato. O gato-eterno.
O menino apanhou o tijolo com que vedava a entrada do mistério. Lá embaixo — alvo fácil — o gato dormia inocente a sua sesta ociosa. Acertar pendularmente na cabeça mal adivinhada na pequena trouxa felina, arfante. Gato, gato, gato: lento bicho sonolento, a decifrar ou a acordar?
A matar. O tijolo partiu certeiro e desmanchou com estrondo a tranqüila rodilha do gato. As silenciosas patinhas enluvadas se descompassaram no susto, na surpresa do ataque gratuito, no estertor da morte. A morte inesperada. A elegância desfeita, o gato convulso contorcendo as patas, demolida a sua arquitetura. Os sete fôlegos vencidos pela brutal desarmonia da morte. A cabeça de súbito esmigalhada, suja de sangue e tijolo. As presas inúteis, à mostra na boca entreaberta. O gato fora do gato, somente o corpo do gato. A imobilidade sem a viva presença imóvel do sono. O gato sem o que nele é gato. A morte, que é ausência de gato no gato. Gato — coisa entre as coisas. Gato a esquecer, talvez a enterrar. A apodrecer.
O silêncio da tarde invariável. O intransponível muro entre o menino e tudo que não é o menino. A cidade, as casas, os quintais, a densa copa da mangueira de folhas avermelhadas. O inatingível céu azul.
Em cima do muro, indiferente aos cacos de vidro, um gato — outro gato, o sempre gato — transportava para a casa vizinha o tédio de um mundo impenetrável. O vento quente que desgrenhou o mormaço trouxe de longe, de outros quintais, o vitorioso canto de um galo.
Familiar aos cacos de vidro inofensivos, o gato caminhava molengamente por cima do muro. O menino ia erguer-se, apanhar um graveto, respirar o hálito fresco do porão. Sua úmida penumbra. Mas a presença do gato. O gato, que parou indeciso, o rabo na pachorra de uma quase interrogação.
Luminoso sol a pino e o imenso céu azul, calado, sobre o quintal. O menino pactuando com a mudez de tudo em torno — árvores, bichos, coisas. Captando o inarticulado segredo das coisas. Inventando um ser sozinho, na tontura de imaginações espontâneas como um gás que se desprende.
Gato — leu no silêncio da própria boca. Na palavra não cabe o gato, toda a verdade de um gato. Aquele ali, ocioso, lento, emoliente — em cima do muro. As coisas aceitam a incompreensão de um nome que não está cheio delas. Mas bicho, carece nomear direito: como rinoceronte, ou girafa se tivesse mais uma sílaba para caber o pescoço comprido. Girafa, girafa. Gatinha, gatinho. Falta um nome completo, felinos e peludo, ronronante de astúcias adormecidas. O pisa-macio, as duas bandas de um gato. Pezinhos de um lado, pezinhos de outro, leve, bem de leve para não machucar o silêncio de feltro nas mãos enluvadas.
O pêlo do gato para alisar. Limpinho, o quente contato da mão no dorso, corcoveaste e nodoso à carícia. O lânguido sono de morfinômano. O marzinho de leite no pires e a língua secreta, ágil. A ninhada de gatos, os vacilantes filhotes de olhos cerrados. O novelo, a bola de papel — o menino e o gato brincando. Gato lúdico. O gato, mais felino do que o cachorro é canino. Gato persa, gato chim — o espirro do gato de olhos orientais. Gato de botas, as aristocráticas pantufas do gato. A manha do gato, gatinha: teve uma gata miolenta em segredo chamada Alemanha.
Em cima do muro, o gato recebeu o aviso da presença do menino. Ondulou de mansinho alguns passos denunciados apenas na branda alavanca das ancas. Passos irreal, em cima do muro eriçado de cacos de vidro. E o menino songamonga, quietinho, conspirando no quintal, acomodado com o silêncio de todas as coisas. No se olharem, o menino suspendeu a respiração, ameaçando de asfixia tudo que em torno dele com ele respirava, num só sistema pulmonar. O translúcido manto de calma sobre o claustro dos quintais. O coração do menino batendo baixinho. O gato olhando o menino vegetalmente nascendo do chão, como árvore desarmada e inofensiva. A incidência, a inocência dos vegetais.
O ar de enfado, de sabe-tudo do gato: a linha da boca imperceptível, os bigodes pontudos, tensos por hábito. As orelhas acústicas. O rabo desmanchado, mas alerta como um leme. O pequeno focinho úmido embutido na cara séria e grave. A tona dos olhos reverberando como laguinhos ao sol. Nenhum movimento na estátua viva de um gato. Garras e presas remotas, antigas.
Menino e gato ronronando em harmonia com a pudica intimidade do quintal. Muro, menino, cacos de vidro, gato, árvores, sol e céu azul: o milagre da comunicação perfeita. A comunhão dentro de um mesmo barco. O que existe aqui, agora, lado a lado, navegando. A confidência essencial prestes a exalar, e sempre adiada. E nunca. O gato, o menino, as coisas: a vida túmida e solidária. O teimoso segredo sem fala possível. Do muro ao menino, da pedra ao gato: como a árvore e a sombra da árvore.
O gato olhou amarelo o menino. O susto de dois seres que se agridem só por se defenderem. Por existirem e, não sendo um, se esquivarem. Quatro olhos luminosos — e todas as coisas opacas por testemunha. O estúpido muro coroado de cacos de vidro. O menino sentado, tramando uma posição mais prática. O gato de pé, vigilantemente quadrúpede e, no equilíbrio atento, a centelha felina. Seu íntimo compromisso de astúcia.
O menino desmanchou o desejo de qualquer gesto. Gaturufo, inventou o menino, numa traiçoeira tentativa de aliança e amizade. O gato, organizado para a fuga, indagava. Repelia. Interrogava o momento da ruptura — como um toque que desperta da hipnose. Deu três passos de veludo e parou, retesando as patas traseiras, as patas dianteiras na iminência de um bote para onde? Um salto acrobático sobre um rato atávico, inexistente.
Por um momento, foi como se o céu desabasse de seu azul: duas rolinhas desceram vertiginosas até o chão. Beliscaram levianas um grãozinho de nada e de novo cortaram o ar excitadas, para longe.
O menino forcejando por nomear o gato, por decifrá-lo. O gato mais igual a todos os gatos do que a si mesmo. Impossível qualquer intercâmbio: gato e menino não cabem num só quintal. Um muro permanente entre o menino e o gato. Entre todos os seres emparedados, o muro. A divisa, o limite. O odioso mundo de fora do menino, indecifrável. Tudo que não é o menino, tudo que é inimigo.
Nenhum rumor de asas, todas fechadas. Nenhum rumor.
Ah, o estilingue distante — suspira o menino no seu mais oculto silêncio. E o gato consulta com a língua as presas esquecidas, mas afiadas. Todos os músculos a postos, eletrizados. As garras despertas unhando o muro entre dois abismos.
O gato, o alvo: a pedrada passou assobiando pela crista do muro. O gato correu elástico e cauteloso, estacou um segundo e despencou-se do outro lado, sobre o quintal vizinho. Inatingível às pedras e ao perigoso desafio de dois seres a se medirem, sumiu por baixo da parreira espaçada ao sol.
O tiro ao alvo sem alvo. A pedrada sem o gato. Como um soco no ar: a violência que não conclui, que se perde no vácuo. De cima do muro, o menino devassa o quintal vizinho. A obsedante presença de um gato ausente. Na imensa prisão do céu azul, flutuam distantes as manchas pretas dos urubus. O bailado das asas soltas ao sabor dos ventos das alturas.
O menino pisou com o calcanhar a procissão de formigas atarantadas. Só então percebeu que lhe escorria do joelho esfolado um filete de sangue. Saiu manquitolando pelo portão, ganhou o patiozinho do fundo da casa. A sola dos pés nas pedras lisas e quentes. À passagem do menino, uma galinha sacudiu no ar parado a sua algazarra histérica.
A casa sem aparente presença humana.
Agarrou-se à janela, escalou o primeiro muro, o segundo, e alcançou o telhado. Andava descalço sobre o limo escorregadio das telhas escuras, retendo o enfadonho peso do corpo como quem segura a respiração. O refúgio debaixo da caixa-d'água, a fresca acolhida da sombra. Na caixa, a água gorgolejante numa golfada de ar. Afastou o tijolo da coluna e enfiou a mão: bolas de gude, o canivete roubado, dois caramujos com as lesmas salgadas na véspera. O mistério. Pessoal, vedado aos outros. Uma pratinha azinhavrada, o ainda perfume da caixa de sabonete. A estampa de São José, lembrança da Primeira Comunhão.
Apoiado nos cotovelos, o menino apanhou uma joaninha que se encolheu, hermética. A joaninha indevassável, na palma da mão. E o súbito silêncio da caixa-d'água, farta, sua sede saciada.
Do outro lado da cidade, partiram solenes quatro badaladas no relógio da Matriz. O menino olhou a esfera indiferente do céu azul, sem nuvens. O mundo é redondo, Deus é redondo, todo segredo é redondo.
As casas escarrapachadas, dando-se as costas, os quintais se repetindo na modorra da mesma tarde sem data.
Até que localizou embaixo, enrodilhado à sombra, junto do tanque: um gato. Dormindo, a cara escondida entre as patas, a cauda invisível. Amarelo, manchado de branco de um lado da cabeça: era um gato. Na sua mira. Em cima do muro ou dormindo, rajado ou amarelo, todos os gatos, hoje ou amanhã, são o mesmo gato. O gato-eterno.
O menino apanhou o tijolo com que vedava a entrada do mistério. Lá embaixo — alvo fácil — o gato dormia inocente a sua sesta ociosa. Acertar pendularmente na cabeça mal adivinhada na pequena trouxa felina, arfante. Gato, gato, gato: lento bicho sonolento, a decifrar ou a acordar?
A matar. O tijolo partiu certeiro e desmanchou com estrondo a tranqüila rodilha do gato. As silenciosas patinhas enluvadas se descompassaram no susto, na surpresa do ataque gratuito, no estertor da morte. A morte inesperada. A elegância desfeita, o gato convulso contorcendo as patas, demolida a sua arquitetura. Os sete fôlegos vencidos pela brutal desarmonia da morte. A cabeça de súbito esmigalhada, suja de sangue e tijolo. As presas inúteis, à mostra na boca entreaberta. O gato fora do gato, somente o corpo do gato. A imobilidade sem a viva presença imóvel do sono. O gato sem o que nele é gato. A morte, que é ausência de gato no gato. Gato — coisa entre as coisas. Gato a esquecer, talvez a enterrar. A apodrecer.
O silêncio da tarde invariável. O intransponível muro entre o menino e tudo que não é o menino. A cidade, as casas, os quintais, a densa copa da mangueira de folhas avermelhadas. O inatingível céu azul.
Em cima do muro, indiferente aos cacos de vidro, um gato — outro gato, o sempre gato — transportava para a casa vizinha o tédio de um mundo impenetrável. O vento quente que desgrenhou o mormaço trouxe de longe, de outros quintais, o vitorioso canto de um galo.
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